Será que está à espreita um segundo buraco negro no coração da Via Láctea? As provas até a data são inconclusivas, mas os astrônomos dizem que um teste relativamente simples poderá esclarecer a questão: procurar um par de estrelas fugindo da Galáxia a uma velocidade estonteante.
Estrelas fugindo do buraco negro bem no centro da Galáxia a uma velocidade estonteante |
Os astrônomos acreditam que existe um buraco negro colossal pesando cerca de 3,6 milhões de vezes a massa do Sol no centro da Via Láctea. Mas alguns afirmam que aí também existe um segundo buraco negro que pesa entre 1000 e 10.000 Sóis.
Centro de um buraco negro |
A prova vem de observações de um enxame de jovens estrelas localizadas a apenas uma fração de ano-luz do monstruoso buraco negro onde as forças gravitacionais deveriam impedir a formação de quaisquer estrelas. O enxame pode ter sido formado mais longe e ter migrado para a sua atual posição, no entanto, se existir um buraco negro de médio-peso que foi gravitacionalmente puxado para o centro galáctico.
Acredita-se que estrelas gigantes se formem proximo ao buraco negro e migrem para o disco de acresção |
Mas tem sido impossível provar esta sugestão. Agora, cientistas dizem que a hipótese pode ser determinada se os astrônomos descobrirem um chamado par de estrelas "hiper-rápidas" que se afastam da perigosa região.
Dez destes demônios cósmicos da velocidade foram descobertos desde Dezembro de 2004, quando se calculou que a primeira estrela viajava pelo espaço a 850 km/s rápido o suficiente para eventualmente escapar da Galáxia.
Buraco negro atraindo estrela gigante |
Os da astrônomos acreditam que algo muito massivo deverá estar a acelerando as estrelas e que a aceleração vem de uma interação entre três objetos mas quais três é ainda tema de debate.
Num cenário, um par de estrelas vagueia demasiado perto de um único buraco negro supermassivo, e uma estrela é capturada enquanto a outra é impulsionada para fora a 4000 km/s. Noutro, uma única estrela aproxima-se de um par de buracos negros e é ejetada a alta velocidade.
Agora, Youjun Lu, astrofísico da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, EUA, e colegas, dizem que existe um teste observacional que pode ser utilizado para distinguir os dois mecanismos. Os seus cálculos sugerem que a descoberta de um par de estrelas "hiper-rápidas" a viajar pelo espaço a 1000 km/s ou mais seria uma "prova definitiva" da existência de dois grandes buracos negros na Via Láctea.
Devido à sua órbita em torno um do outro, dois buracos negros teriam uma maior esfera de influência nos seus arredores do que um único buraco negro. Por isso, um par de estrelas que estivessem suficientemente perto uma da outra (menos de cerca de um terço da distância entre a Terra e o Sol), seria tratadas como estrela única e as disparariam para fora a hiper-velocidades.
Isto não aconteceria para um único buraco negro, diz Lu. Trataria as estrelas individualmente em vez de uma única unidade, capturando uma estrela e expelindo a outra. "Para um buraco negro único, a probabilidade de libertar um binário hiper-rápido é negligenciável," afirma.
Lu diz que cerca de 10% das estrelas na vizinhança do Sol têm uma próxima parceira. Por isso, se essa proporção é a mesma perto do Centro Galáctico, uma das 10 estrelas hiper-rápidas já descobertas pode na realidade ser um binário.
As estrelas estão todas demasiado distantes e são muito tênues para discernir se são apenas uma ou são duas. Mas o seu espectro poderá revelar se "oscilam" devido aos puxos gravitacionais de uma companheira vizinha. A oscilação deverá variar com o período orbital das estrelas em torno uma da outra, que se espera durar entre dias e semanas.
Warren Brown, um astrônomo do Centro para Astrofísica Harvard-Smithsonian, liderou uma equipa que descobriu oito das 10 estrelas hiper-rápidas atualmente conhecidas. Ele espera re-observá-las todas no Inverno com o objetivo de procurar um sinal em tais escalas de tempo. "Penso que é uma previsão relativamente fácil de testar observacionalmente," disse.
Lu diz que descobrir um segundo buraco negro no centro da Via Láctea não só explicaria o misterioso jovem enxame aí avistado, mas também mexeria com as teorias comuns de como as galáxias crescem.
Pensa-se que as galáxias crescem através de fusões entre pequenas galáxias ou enxames estelares, cada das quais poderá conter o seu próprio buraco negro supermassivo. Com o passar do tempo, pensa-se que os buracos negros se aproximem antes de eventualmente se fundirem também. "Por isso poderemos ter mais que um buraco negro no centro da Galáxia," diz Lu.
Brown concorda que o buraco negro supermassivo da Via Láctea possa ter crescido ao engolir outros buracos negros no passado, mas acredita que as provas apontam para um único buraco negro no Centro Galáctico presente. "Um buraco negro único parece ser o cenário mais provável," diz. "Mas não há provas que [um segundo buraco negro] não estivesse lá há 100 milhões de anos atrás e que se tenha fundido, daí não o podermos ver agora.
O FILÓSOFO
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